Uma campanha eleitoral, vivida na primeira pessoa, aporta momentos únicos, inesperados e inesquecíveis. Descobrir o sentido de algumas frases; perceber a origem de algumas reacções; responder com nexo a alguns pedidos, constitui um permanente desafio ao candidato. Quando dizem que nos conhecem e nos trocam o nome; quando afirmam a propósito de determinado folheto acabado de sair da gráfica que o têm lá em casa há mais duma semana; quando condicionam o voto à resposta positiva e imediata a um problema que nem sequer é competência do titular do cargo cuja eleição está em disputa; ou quando, em resposta à pergunta se vai votar ouvir “ontem não tive tempo mas vou ver se arranjo um bocadinho para ir lá manhã ou depois”; quando isto acontece, o melhor mesmo é sorrir e seguir em frente. Testes à verticalidade e independência do candidato surgem sob a forma de chantagem de onde menos se espera, como por exemplo quando um pretenso amigo diz “resolva isso antes das eleições porque lá em casa são quatro votos” - “se não me resolve isto até às dez horas vou chamar a TVI”...
Outra nota curiosa é a transfiguração dos candidatos durante a campanha eleitoral. As posturas, as acções e as afirmações surpreendem. Acontece até haver pessoas por quem nutrimos algum respeito, respeito este que de repente se perde, quando o candidato, nessa pele, se transforma em mentiroso, mal-educado ou provocador. Não obstante a vontade de levar a mensagem ao maior número possível de eleitores, a ansiedade quanto à receptividade da mensagem e o frenesi próprio da campanha eleitoral, cremos não haver justificação para tal transfiguração.
O registo destas notas “a quente” não impede nem reduz a oportunidade duma apreciação mais ponderada em momento mais sereno.
Vítor Antunes
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